Metáfora e Psicologia: uma relação perigosa? A inadequação da linguagem figurada nas ciências e a restrição de seu uso apenas aos textos retóricos, literários e sobretudo poéticos, é uma tese muito antiga. Atravessou os séculos, sem suscitar muita discussão. Afinal, era uma linguagem desviante e como tal, não desejável para a expressão correta dos enunciados científicos. Mas a análise epistemológica atual da linguagem cientifica tem revelado aquilo que foi negado de pés juntos pelos empiristas, positivistas e neopositivistas, atestando não só a presença flagrante de analogias metafóricas na construção de modelos científicos, mas também uma função cognitiva que ultrapassava de longe a sua restrição ao embelezamento dos discursos e ao colorido das figuras argumentativas para convencer as audiências. O mais interessante é que os que condenaram o uso da metáfora nas ciências, e na Psicologia em particular, fizeram uso enorme de metáforas nas suas invectivas. Tudo aponta agora para uma total inversão do assunto: será que a metáfora é um desvio da linguagem correta ou é esta que surgiu daquela? Misteriosa como sempre, a metáfora parece assombrar e ao mesmo tempo, iluminar os caminhos imprevistos da própria ciência.