A força trágica de personagens de existência aparentemente comum em suas misérias cotidianas, na frustração coletiva de desejos submersos por necessidades mínimas de sobrevivência, num Portugal pobre e amargurado. Em “A ordem natural das coisas”, a linguagem lírica e dura de António Lobo Antunes e a narrativa original em que os protagonistas se alternam em monólogos como narradores entrelaçados, dá àquela gente humilde sentimentos violentamente intensos, tristezas radicalmente humanas. É comovente a poética delicada e ao mesmo tempo crua de uma língua-mãe, sábia e madura, que apresenta ao leitor as mazelas de Iolanda, uma jovem de 18 anos, vítima do diabete e de seus estigmas. O autor chamou a atenção da crítica portuguesa por sua linguagem polêmica, por um lado crua e irreverente com gírias e palavrões, por outro lírica na expressão das angústias de uma geração marcada para morrer nas guerras com Angola ou pela polícia salazarista até a Revolução dos Cravos e seus desdobramentos.