Estes escritos de Beatriz Ras impressionaram-me fortemente desde quando ela contou-me, há muito tempo, sobre este projeto lendo alguns trechos escolhidos. Reservo, para este conjunto de escritos, a denominação de poema, tal como classifica o grande poeta Wlademir Dias-Pino: um texto poético que se expande para além das palavras e incorpora outras linguagens. Em Beatriz, a linguagem da clínica é que se dissolve na arte. De maneira corajosa, a autora sobrepõe o poético à rígida descrição técnica do mundo Psi, seja ela oriunda da subjetividade da psicologia ou da objetividade da psiquiatria. Beatriz começou a escrever este poema enquanto trabalhava em uma casa onde pessoas com dilacerantes vivências psicóticas deixaram os grandes e insanos manicômios, em que moravam por décadas, para exercitarem a experiência de morarem juntos. É dificil para essas pessoas fragmentadas pelos traumas (pela vida) o exercício da empatia com o outro: através da imaginação, penetrar no que o outro sente e(...)