[...] Desde as primeiras páginas, percebe-se que as ideias-mestras que compõem essa análise trafegam na contramão de quase tudo o que, em matéria de alfabetização, vem sendo feito no país. Com razão, pois, apesar do equívoco do termo alfabetização, aprender a ler e escrever é muito mais do que adquirir o domínio das letras, ou seja, sua identificação e articulação segundo as regras gramaticais e sintáticas da língua escrita; é poder penetrar no universo da significação do mundo construído pelos homens, não só através do testemunho oral da palavra do outro, mas através do testemunho desse outro registrado para a posteridade na forma de texto escrito. [...] fica mais fácil seguir o autor do texto quando, através de pesquisa minuciosa junto aos envolvidos no processo de alfabetização que ocorre no Paranoá, mostra-nos que se tornar leitor-escritor pode significar, desde que as condições sejam postas para isso, uma mais-valia na constituição do sujeito amoroso, político e epistemológico ou, em outras palavras, em termos de crescimento, como ser pensante, ser atuante na vida da polis e ser que reconhece o outro e se faz reconhecer por ele.