Há basicamente dois tipos de narrativa: as que privilegiam histórias e personagens e as que privilegiam a linguagem, realçando a função poética. Não se excluem, claro. Convivem. Trata-se de ênfases. Érico Veríssimo representa bem uma tendência, Guimarães Rosa, outra. Textos necessitam de leitores cooperativos, que descubram seus segredos: citações, alusões, implícitos, saberes esperados. A narrativa que espera o leitor neste volume é do segundo tipo e aposta em um leitor rico e perdulário: que esteja disposto a compartilhar com o texto os seus saberes, contribuindo para construir o sentido. O leitor deve também ser sacador e dar-se conta de certas jogadas, feitas sem aviso prévio. A história tem manifestações de rua como pano de fundo e inclui trapalhadas e idiossincrasias de governantes. Ao mesmo tempo, conta uma história humana, que começa com o atropelamento de um ponto por uma palavra-caminhão .