Poderíamos pegar um outro extremo e observar que, afinal, nossa relação com o sexo conhece uma mutação semelhante. Até aqui pertencemos a uma cultura fundada na representação, quer dizer, numa evocação, na evocação do lugar onde se mantinha a instância sexual suscetível de autorizar as trocas. Passamos da representação que nos é familiar, costumeira da relação com o sexo, relação da qual apenas nos avizinhávamos, à - parece - preferência por sua apresentação. Como com essa "arte anatômica", trata-se agora de buscar o autentico, em outras palavras, não mais uma aproximação organizada pela representação, mas de ir para o objeto mesmo. Se continuarmos nesta linha, o que marca essa mutação cultural é esse apagamento do lugar de esconderijo próprio a abrigar o sagrado, quer dizer, aquilo pelo que se sustentam tanto o sexo quanto a morte. Assim, o sexo é encarado hoje em dia como uma necessidade, como a fome ou a sede, agora que estão suspensos tanto o limite quanto a distanciam próprios ao sagrado que o albergava.