Em sua obra Maurice Halbwachs mostra-se um correto durkheimiano. Se, ao falar das classes sociais e, em seguida, do suicídio, ele ultrapassa o pensamento do mestre da Escola francesa, sua análise da memória assemelha-se diretamente à inspiração das formas elementares da vida religiosa. O autor demonstra que é impossível conceber o problema da evocação e da localização das lembranças se não tomarmos para ponto de aplicação os quadros sociais reais que servem de ponto de referência nesta reconstrução que chamamos memória. Situa-se, em Halbwachs, uma notável distinção entre a "memória histórica", de um lado, que supõe a reconstrução dos dados fornecidos pelo presente da vida social e projetada no passado reinventado; e a "memória coletiva", de outro, aquela que recompõe magicamente o passado. Entre essas duas direções da consciência coletiva e individual desenvolvem-se as diversas formas de memória, cujas formas mudam conforme os objetivos que elas implicam. É surpreendente como as últimas análises de Maurice Halbwachs, pouco tempo antes de sua deportação e seu assassinato pelos nazistas, abrem um novo caminho para o estudo sociológico da vida cotidiana.