Uma mulher sob um feitiço aguarda que um homem a desperte para a vida. O tema, recorrente em contos de fadas como A Bela Adormecida e Branca de Neve, é revisto sob uma ótica contemporânea em Eu estou aqui, de Clélie Avit. No cenário frio e asséptico de um hospital surge a paixão entre Elsa, uma montanhista em coma há cinco meses depois de cair durante uma escalada, e Thibault, que se refugia no quarto da moça, por não querer visitar o irmão, o motorista bêbado que causou a morte de duas adolescentes num acidente automobilístico. Delicadamente composto, o romance, lançamento da coleção <3 Curti, do selo Fábrica231, mostra o envolvimento gradual entre dois personagens cuja comunicação se dá instintivamente. Enquanto Thibault pode conversar e incentivar Elsa a retomar o domínio de suas ações, a jovem ouve, percebe e sente toques em seu corpo, mas não tem como comunicar seus desejos e anseios. Os dois passam a se conhecer tanto pelo que transmitem um ao outro Thibault em suas confidências, Elsa tentando demonstrar que corresponde a seus estímulos quanto pelo que os amigos da montanhista comentam a respeito do rapaz ou falam a ele sobre Elsa. Junto da moça em coma, Thibault sente-se tranquilo e protegido da revolta contra o irmão, internado em estado grave no mesmo hospital. Elsa, embora cercada pela família e por amigos, se entusiasma com a ousadia de Thibault, que não se acanha em beijá-la. E quando os parentes discutem a possibilidade de desligar os aparelhos que a mantêm viva, é com ele que Elsa conta para lutar por sua própria sobrevivência. Narrado em primeira pessoa, alternando os relatos dos dois protagonistas, Clélie Avit consegue abordar problemas universais e atuais, como eutanásia, violência no trânsito e alcoolismo. As novas famílias urbanas também se superpõem aos laços biológicos. Thibault acompanha a mãe ao hospital, mas se recusa a enfrentar a situação do irmão, à beira da morte por um desastre causado por irresponsabilidade. Pontuando a incapacidade de Elsa comunicar-se estão diálogos que revelam a trajetória do casal apaixonado antes de se encontrarem pela primeira vez. Desiludido depois do rompimento com a última namorada, Thibault se percebe apaixonado por Elsa quando sente falta de estar próximo a ela. O amor desesperançoso, marcado por silêncios, aumenta a ponto de Thibault buscar sinais de recuperação de Elsa, embora os médicos afirmem que alterações nos batimentos cardíacos ou pequenos movimentos faciais são reflexos involuntários, sem significar o retorno da lucidez. A verdadeira saga de Elsa e Thibault na luta para construírem uma história juntos é apresentada de maneira envolvente por Clélie Avit, de forma a tornar o leitor um cúmplice desta narrativa poética e dolorosamente calcada na realidade. Uma emocionante história de amor e superação que tem início quando Thibault, ainda se recuperando de um divórcio que levou embora suas esperanças, entra por acaso no quarto errado do hospital onde fora visitar o irmão. No leito, uma mulher dorme e ele encontra uma paz que há muito não sentia. Em coma há cinco meses, Elsa sofreu um acidente numa escalada, e a família já não acredita em sua recuperação. Mas, tomado por um sentimento que ele mal consegue definir, Thibault passa a visitá-la sempre que possível e, a cada dia, aumenta sua certeza de que está apaixonado por Elsa e de que ela ouve cada uma de suas palavras. Uma declaração de amor à vida e aos pequenos gestos que são capazes de transformá-la.