Francisco Bosco é um tipo raro de intelectual. Sua formação é ampla, como a dos melhores ensaístas. Neste livro, os traços que o notabilizaram em obras anteriores aparecem em sua potência máxima. O tema escolhido não é trivial: simplesmente a encrenca em que o Brasil se meteu nos últimos tempos, que desaguou na eleição de um presidente avesso à democracia e na devastação do debate público, transformando adversários em inimigos e a arena de ideias num ringue de mentecaptos. O ponto de partida é uma limpeza da situação verbal: Bosco recorre à melhor literatura política e econômica para desbastar o terreno e restituir complexidade às noções de liberalismo, socialismo, comunismo, identitarismo, entre tantas outras que se esvaziaram nas redes digitais. O autor identifica duas fraturas na identidade brasileira: a cultura popular e a democracia. Esses dois pilares da autoimagem nacional foram rachados nos últimos tempos, deixando um rastro de ressentimento e violência. O caminho [...]