Manifesto de corações partidos é um corpo que dança. Não digo isso porque o poeta André Kaires é dançarino, mas pelo fazer poético que coreografa, no palco das páginas, os movimentos de um corpo sem limites. É isso que me excita nesse livro, a experiência de certa instabilidade: textos que se abrem, se desdobram, se multiplicam, se ampliam, desconfigurando as espacialidades estabelecidas. Eu também falo de gêneros: as bordas físicas e textuais se expandem do manifesto à poesia, da poesia à prosa, da prosa ao pênis, do pênis ao coração, porque esse manifesto não pode esperar até o amanhecer. ele tem pressa. tanta coisa pra falar. e não se importa em não ser lido. ele apenas quer dizer. Querer dizer, aqui, é dançar a dança contemporânea na qual o corpo está sempre em estado de recomeço: minha cabeça anda tão desarrumada/que preciso cortar os cabelos,/colorir as unhas/batom vermelho/na boca. Na experiência do corpo que se desborda, Kaires não dança só, seus pares são tantos: [...]