Júlio Verne - A Ciência e o Homem Contemporâneo é um diálogo entre Michel Serres e Jean-Paul Dekiss que conduz o leitor num passeio pela obra do autor de Vinte Mil Léguas Submarinas. Os romances de aventuras destinados à juventude, pela mão de Serres, vão-se tornando verdadeiras obras de crítica da cultura. A análise da obra de Verne dá a oportunidade de pensar sobre o mundo contemporâneo, sobre o antagonismo que há muito opõe a ciência e a literatura e sobre o cidadão que queremos formar. Serres é autor também de Hominescências, Os Cinco Sentidos, Notícias do Mundo, Variações Sobre o Corpo e O Incandescente. "Com muito talento, Júlio Verne tentou um golpe admirável, uma viagem extraordinária: tornar a ciência cultural", escreve Serres. "Ele conta que as ciências fazem parte da formação cultural como as rochas colaboram, em parte, para a formação da crosta terrestre. A escotilha de Nemo mostra, como uma tela, que a oceanografia permite ver melhor a beleza do mar. Quanto a nós, filósofos, políticos, administradores etc., não conseguimos tornar cultural a ciência contemporânea. Daí um afastamento, uma dilaceração dramática. Um rumor social crescente a recusa. Entre nossos saberes, nossos meios e a cultura, a tensão aumenta. A cultura se afasta da pesquisa. Isso é preocupante. Perdemos uma via na qual Júlio Verne mostrou que poderíamos ter nos embrenhado? Nós não a seguimos, e a universidade formou, como eu disse, literatos cultos mas ignorantes, de um lado, e, de outro, cientistas sem cultura." Lendo a obra de Verne, Serres nos mostra, em Júlio Verne - A Ciência e o Homem Contemporâneo, o quanto seria inútil nos fecharmos numa postura de defesa e glorificação do passado. É preciso transmitir, é certo, mas a releitura do passado deve alimentar a criação do presente. As aventuras narradas por Verne concitam-nos a manter um olhar atento e livre de preconceitos sobre o mundo em que vivemos.