NÃO É AOS CADÁVERES que Annalu Braga dedica Olhos de vidro. Dedica-o aos fantasmas. Façam-se, pois, leitoras e leitores, fantasmas, se já não o forem, ao decidir entrar no universo de perseguição e violência e na trama de culpa e remorso, de vingança adiada, das dez narrativas de Olhos de vidro. Universo e trama brincam de amor e dor como samba-canção de Lupicínio Rodrigues. Eles se apresentam tão colados ao real quanto a já inventada impressão em 3-D. Achtung! estômagos delicados. Os corpos em ação explodem em sangue e urina. O estupro da mulher é feito por ordem e em presença de torturadores. Sadismo se mescla a gozo. Pronto. A leitora e o leitor já vivem fantasmagoricamente. Uma mulher bate à porta de casa na Rua da Saudade, em Paquetá. A mulher se chama Yilze, pode se chamar Adelaide. O homem que a recebe se apelida de Juiz, pode se chamar Carlos - em homenagem ao subversivo Marighella, contemporâneo assassinado.