A medida com que aqui me aproximo de Nietzsche é também aquela com que dele me afasto: exerço, em relação ao seu pensamento, as prerrogativas, por si marcantemente inventariadas, da interpretação e avaliação, quer dizer, da sua confiscação em benefício do meu interesse, ainda que seja o meu interesse por ele. Desvio-me, pois, da sua convocação: não é o seu pensamento o que procuro, mas um pensamento que, sendo já meu, me permita ainda através dele navegar. Aliás, uma navegação sempre com mapa incompleto e à beira do vórtice. Mais do que uma navegação em demanda de bom porto, trata-se de um voo para o coração da tempestade. Precisamente, a nossa epígrafe para a vertigem pensante de Nietzsche. ANTÓNIO DUARTE HENRIQUES LOPES, licenciado em Filosofia pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Professor do ensino secundário. Colaborador habitual num dos jornais da cidade de Tomar. Autor de Fronteiras da Lição, também editado pelo Instituto Piaget