Reconhecido por sua produção ensaística, o professor e crítico literário Davi Arrigucci Jr. recentemente revelou-se um grande ficcionista. Se na estréia, em Ugolino e a perdiz, a paisagem da cidade natal do autor aparecia em suas muitas histórias lembradas, tendo como temas principais a caça e a paixão culinária, destacados contra um tirocínio duro e rigoroso, de ferreiro; agora, em O rocambole, o mesmo cuidado com os detalhes da memória reaparece, visando à simplicidade, mais doce e sensual. O cenário desta história de amor e juventude é novamente São João da Boa Vista, cidade do interior de São Paulo, próxima à Mantiqueira: Cujas verdes colinas, viçosas sob a luz forte dos dias sem nuvem, de longe azulam serenamente sob a brisa da tarde, que sopra suave, apenas ondulada pela sucessividade dos morros. A novela apresenta duas famílias vizinhas, dos primeiros imigrantes europeus na terra paulista, os Heyst e os Pascali, em momentos distintos de suas vidas. Dos Heyst, não resta quase nada vivo no casarão: Lourenço, filho de Leontina e do falecido doutor Pedro Heyst, suicidou-se às vésperas do casamento com a bela Mariana, assombrado pelo terror de uma doença misteriosa, e Edgardo está sempre entocado na fazenda. Já os Pascali, mais humildes e passionais, possuem o vigor dos personagens fellinianos. Nicolino ou Spacca, apelidado de Paquinha, filho único do alfaiate Pepe e da bela Fiammetta, é um personagem destinado a deixar sua marca em nossa literatura, riquíssimo na reconstituição do narrador, amigo e admirador.