Só quem morreu pode dizer se, antes de partir, viu a vida toda passar diante dos olhos. Não sei de onde veio essa ideia, mas posso afirmar que de tão repetida, embora nunca realmente atestada, virou um lugar comum em livros, filmes, reportagens de jornal e conversas de bar. Como um escritor pode tornar esse lugar comum a todos algo interessante, estranho ou mesmo incômodo para quem lê? Penso que Binho Barreto responde essa pergunta de várias formas em O livro dos vivos. Com uma prosa que quase ultrapassa para o lado de lá, o da poesia, o autor tira a mera função geográfica-localizadora do lugaR E o transforma em personagem: a cidade. E arranca o que há de literário no comum das pequenas coisas e pessoas que deambulam diariamente, com sua caneta que escreve e também desenha. (Trecho da orelha de O livro dos vivos, escrita por Carina Santos).