O presente livro propõe uma análise do discurso bíblico que se debate entre a força e autoridade do ambiente acadêmico e um misto de medo e ousadia, diante da possibilidade de desvendar os mistérios de um discurso sacralizado em nossa cultura. Mariza Mendes confessa que sentiu-se, nesse percurso intelectual e passional, um sujeito em conflito, modalizado pelo querer fazer e ao mesmo tempo pelo não poder fazer, enfim, um sujeito da transgressão, dominado pelo desejo. O contexto universitário lhe ofereceu as condições de realizar seu desejo, entre medo, a ousadia e a consciência de estar mexendo num "vespeiro": o texto mais publicado, comentado e polemizado, mas o menos estudado pelos analistas de discurso, o Antigo Testamento. Esse conjunto de narrativas vem influenciando há milênios o modo de ser, de agir e de pensar na cultura judaico-cristã. O que mais a fascina, porém, é estar diante de uma mistura de vários gêneros de discurso - mítico, religioso, jurídico, filosófico, político, literário e, sem dúvida nenhuma diante dos "discursos fundadores" de nossa cultura. Para definir esses discursos, a autora aponta de forma surpreendente para aqueles que nunca leram alguns textos clássicos mas usam expressões criadas por eles: "no sétimo dia descansou", "não dá para agradar gregos e troianos", "agora Inês é morta", "em se plantando tudo se dá". Seriam esses discursos os que põem ordem na sociedade?