A capacidade que a arte, e em especial a literatura, tem de transmitir sensivelmente a experiência do mundo não está posta nem na mimese formal dos objetos reais através dos quais se constituem, nem na verossimilhança produzida pelas ações das suas personagens. Reside, entretanto, na capacidade do artista de apresentar ao leitor uma certa dinâmica do real traduzida, com efeito, através de uma síntese de opostos, seja no plano visual, intelectivo ou sonoro do construto artístico. Essa unidade de mudança e duração (Wechsel-Dauer, como a nomeou Goethe) é um processo enantiomórfico através do qual se encerra a grande contradição desse real, a coisa em si tão obsessivamente perseguida pela filosofia ocidental, que, ironicamente, pode ser capturada apenas em seu estado de devir, esteja ele expresso no fogo-calmo do rio Neckar como notou Hölderlin durante sua viagem a Heidelberg ou mesmo na pressa que se demora das cascatas suíças em Schaffhausen, no rio Reno conforme Goethe. Em outras (...)