Preparo um mingau, olho minhas mãos e as vejo como se fossem suas, ali, preparando docemente o alimento pra mim. Coloco sua voz em minha mente reclamando de mim, me dizendo para eu cuidar melhor de minha saúde, que me alimento muito mal, durmo pouco, e por isso eu fico doente. Faço a cara que eu faria se sua presença fosse real, finjo que tanto faz, fico meio blasè, respondo que não é nada, que daqui a pouco passa, como se você fosse estar ali pra sempre, como se o tempo não fosse soberano suficiente para nos tirar um do outro também pra sempre. Quase preparo um chá de qualquer coisa somente pra ouvir sua voz dizendo que ele, o chá, é bom pra digestão, pros neurônios, pra curar ebola e as mais diversas doenças existentes no cosmos. Não preparo. Tomo o mingau e me calo, enquanto você acaricia minha cabeça, sentenciando que ando muito pálido ultimamente.