Da pequena sala de janelas góticas do Castelo de Seton, James Farrell demora o olhar nas ondas de um Atlântico cor de chumbo que, impetuosamente, tomam de assalto a costa da Cornualha. Sente poucos remorsos por ter acabado de assassinar Sarah Hartcourt, sua mulher. Invade-o uma calma quase sobrenatural, um passado longuínquo com a força inexorável dos fantasmas exumados, das memórias abissais que encerram todas as explicações. Quarenta e cinco anos medeiam entre o presente, meados do século XXI, e o tempo da sua juventude. Ella Hartcourt, a prima odiada de Sarah e único amor de Farrell, suicidou-se, há muito, na sua cela. Foi finalmente vingada. Obra de estreia de Richard Mason, «Almas à Deriva» é um romance brilhante, lírico, profundamente perturbador pela violência e pela intensidade da sua beleza trágica. É um thriller sofistica-do e inteligente, de primeiríssima água, sobre o fascínio, a obsessão e a perigosidade do primeiro amor. Nele confluem, habilmente desenhados, os veios mais sombrios e os mais luminosos que percorrem a alma humana - amor, dádiva, mistério, paixão, loucura, traição, vingança, morte. Uma obra-prima, comparável apenas à excepcionalidade de «Reviver o Passado em Brideshead», «Rebecca» ou «Monte dos Vendavais», e à qual se regressa sempre ao longo da vida.