Quem sou eu? Quem somos nós? Como articular a individualidade que nos separa de todos os outros e as pertenças que nos solidarizam com outros no seio de comunidades? A nossa identidade afirma-se como o produto enigmático de duas dinâmicas antagónicas, em virtude das quais cada um apenas pode dizer "eu", dizendo também "nós". Implicada pela lógica do individualismo, a exigência de ser eu-próprio devia, ao radicalizar-se, exprimir-se sob a forma de uma acentuação da identidade cultural. De acordo com um paradoxo constitutivo da democracia, é no mais íntimo da preocupação de autenticidade que enraíza a redescoberta desse "nós" no qual cada um reconhece uma dimensão daquilo que é. Daí procede a interrogação deste livro: voltar a implicar o indivíduo na cidade não é, de ora em diante, permitir-lhe que afirme socialmente essa dimensão dele próprio que o liberalismo clássico apenas tinha podido tolerar, reenviando-a para a esfera privada?