Passados dezoito anos da substituição da figura do menor infrator pela da criança e do adolescente que praticam atos infracionais, a realidade brasileira está longe de converter o direito posto no Estatuto da Criança e do Adolescente em projeto social, tarefa de todos. O comparecimento constante de sujeitos cada vez mais jovens nas cenas do crime, associado às denúncias de extermínio e violência por eles e contra eles praticados, dá visibilidade ao fenômeno da delinqüência juvenil como um tema de grande força simbólica. É nesse contexto que se insere este livro, baseado em pesquisa na qual a autora acompanhou o percurso de delinqüentes juvenis pobres no Abrigo Luiz de Barros Montenegro e no Centro Educacional São Miguel, em Fortaleza - CE. Em meio às fortes imagens suscitadas pela escrita delicada e elegante de autora, a problemática do delinqüente juvenil pobre é relacionada ao processo de socialização na família. As relações do adolescente com a família, os sentimentos de amor e ódio evidenciados em relação à figura materna, e o encontro com novas realidades, com os códigos de violência que imperam nas ruas e com as arbitrariedades e a corrupção dos representantes da Justiça, representam situações de extrema ambigüidade. Nessas situações, o delinqüente juvenil pobre conjuga sua identidade de quase pai e quase filho, quase homem e quase menino, quase vítima e quase réu. Assim, reinventa um sentido positivo para seu viver "vagabundo" e sonha em ser "malandro", tendo a morte como perigo iminente.