"O Folclore da Mulher Gaúcha", que alcança sua 4ª edição, há mais de 30 anos vem revelando os saberes da cultura popular que sustenta o mundo feminino. Elma Sant'Ana é precursora das pesquisas bibliográficas e, especialmente, de campo; subindo e descendo cerros, percorrendo pampa, fronteira e litoral, recolhe autênticos relatos de vida e conhecimento de mulheres simples, ainda não maculadas por uma cultura de massa. A obra desnuda assuntos ainda hoje reservados no seio das famílias, como o incômodo, a gravidez, o parto, a amamentação, o noivado, a virgindade e o casamento. Além de ser leitura indicada pelo MTG/RS para prendas participantes da Ciranda Cultural, os temas em questão são de interesse geral e revelam pontos de identidade entre as gerações. O que era somente considerado crendice pela cultura popular, modernamente pode ter reconhecido o caráter científico. E, diga-se com justiça, nos anos 80, quando da preparação para o Concurso Estadual de Prendas, em que alcancei a primeira colocação, esta obra foi imprescindível. Recordo que causou surpresa a clareza e a profundidade do conteúdo; alguns relatos, por ser neta de parteira e benzedeira, tiveram respaldo prático na minha vida. Um elo com a autora Elma se criou nesse momento: a partir de então, habitualmente revisito suas obras, importantes fontes para consulta quando estive no exercício na função de Conselheira de Cultura do Rio Grande do Sul. As mulheres se identificam por suas dores e por seus amores. Desimporta o quanto tenhamos acrescido às nossas vidas de trabalho, formação e liberdades; seremos sempre força e coração, resultantes da mescla inicial de índias, brancas de vida airada, portuguesas, negras e imigrantes. Elma ultrapassou os limites do silêncio e revelou o ser mulher sul-rio-grandense em todos os tempos.