O que mais pode querer o poeta senão habitar os olhos infinitos dos cavalos? O que é o poema, senão um rio que esculpe outro rio, ao quartzo? Gosto de pensar a poesia como algo que atravessa sempre uma natureza intelectual, sonora, bela. No percurso do projeto poético de maiúsculas abertas, este novo livro de Isaac Bugarim (a quem acompanho há tempos), vê-se a sua percepção apurada do cotidiano. Se em seu Agrafia (2015) a obsessão pelas palavras dá o tom (buscando a expansão de seus sentidos, explorando suas combinações), aqui, a palavra, este animalesco porto, adensa as inquietações do poeta, acompanha-o no naufrágio, ilumina o caminho pelos abismos. Os poemas deste volume constroem uma grande tessitura expressiva e o entrelaçamento verbal parece criar, de tão bem compactado, uma peça única que se lê num só fôlego, uma instigante suíte verbal com muitos movimentos e estratégias um poema atado às cotovias. [...]