A crise ambiental é a crise de nosso tempo, reconhece Enrique Leff, para quem o saber ambiental deve estar centrado na abertura à diversidade, na utopia e na articulação das ciências com as diferentes significações culturais designadas à Natureza. Diante desse propósito, a literatura se apresenta como instrumento para se pensar a complexidade ambiental. Nas fronteiras fluídas do espaço privado e do público, da arte e das ciências, do ficcional e do real, o texto literário evidencia a relação da sociedade com seu meio ambiente. É o que se constata na produção literária de João Guimarães Rosa, escritor mineiro, para o qual escrever sobre a Natureza tem o sentido de missão, de vocação superior. Sendo um autor que tinha consciência das grandes responsabilidades que um escritor assume, através da imaginação, do resgate da história, da pesquisa e da indagação, ele encontra na Natureza do sertão a inspiração que vai permitir fluir em sua obra as leis da natureza e as leis dos homens, o saber popular e o erudito, o poético e o prático, a ciência e a arte. Uma complexidade que emerge como resposta da própria natureza frente à sua degradação. Dentro dessa perspectiva, propomos percorrer o itinerário de Guimarães Rosa em seu trabalho missionário de intérprete da Natureza e de reler seu discurso à luz do pensamento de Leff sobre a complexidade ambiental. Nesse trajeto se delineiam os traços do poeta que apreende, compreende e internaliza as questões ambientais e se reconhece a sua obra, como referência importante para a construção dos pilares da nova racionalidade ambiental.