Em seu quarto livro, este Impuro silêncio, a mesma microscopia persiste na observação de objetos ou de pulsões afetivas. Com a meticulosa perícia de um artesão caprichoso, tudo foi reduzido à menor imagem possível, porque o poeta continua obcecado por uma "ânsia desmedida de mudez" e "o que queria / dizer / já falou / quieto". Se o mundo inteiro se contém num grão de areia, perscrutar seus detalhes e saboreá-lo em partículas, descrevendo-o de igual forma com economia de meios, é opção das mais sadias e lúcidas. No entanto, apesar desse rigor, desse obstinado e bem-lavrado estoicismo com a fala, na experiência deste livro, como na dos que a ele trouxeram, "há silêncio / que não cabe na boca". Daí então Ricardo Lima, para alegria dos muitos que admiramos seus versos, ser levado a incrustar lá no fim uma auspiciosa divisa, pequena e grande como os mundos de areia: