Este livro é resultado de uma pesquisa de doutorado em psicologia que discute a importância de recorrer a outras esferas do saber além da ciência, como a arte e, mais especificamente, a literatura, para o estudo sobre o indivíduo. Entende-se que a ciência psicológica não abarca a descrição de muitos aspectos presentes na formação do indivíduo. Já a literatura pode fornecer tanto uma perspectiva histórica da cultura como elementos que a própria razão não é capaz de apresentar. A literatura permite entender como era o homem em outras épocas e, assim, ela fornece a medida das mudanças ocorridas no indivíduo, como sua perda de autonomia e dificuldade de formação. O exame dessas questões se baseia nas reflexões dos teóricos que compõem a Teoria Crítica da Escola de Frankfurt. Alguns aspectos do romance O processo, de Franz Kafka, são analisados neste estudo. A leitura dessa obra concomitante à leitura de alguns textos de Freud permite entender como era o indivíduo da época desses autores, bem como fornece subsídios de sua constituição. O livro se divide em três partes: na primeira, são expostos princípios teóricos para descrever a relação entre indivíduo e cultura e para entender como o trabalho do artista expõe sua realidade. Na segunda, por meio de reflexões sobre O processo, busca-se mostrar como o romance é capaz de expor as dificuldades de existência do indivíduo. Por fim, na terceira parte são discutidos alguns limites da psicanálise freudiana e algumas relações dessa teoria com os achados da literatura. Não se pretende propor nenhum tipo de rejeição à psicanálise, mas contribuir para a reflexão sobre seus limites e, portanto, para a ampliação deles.