Em antropologia fílmica, não basta observar para imaginar que tudo foi visto. Do mesmo modo não é suficiente elaborar previamente mises en scène precisas de uma técnica ritual, material, corporal, ou ainda filmá-las exaustivamente para tornar esses produtos documentários de qualidade. É necessário, sim, "descrever o visível", título deste livro, mas, sobretudo, leque de dez empreendimentos concretos de pesquisadores, nacionais e estrangeiros, sobre a questão. Descrever o visível, ao evocar uma tradição do cinema etnográfico em instituições de pesquisa em ciências humanas - a Escola de Nanterre em especial -, procura demonstrar que o antropólogo-cineasta não pode dispensar o que Jean Rouch chamava de "antropologia partilhada". Com efeito, concebido "como um segundo campo de pesquisa capaz de dar forma aos dados acumulados e produzir resultados", o filme é também um instrumento inigualável que permite às pessoas filmadas ter acesso à atividade do pesquisador-cineasta, dando-lhes, assim, a possibilidade de eventualmente intervir na apresentação fílmica e, mais ainda, no próprio desenrolar da pesquisa. Trata-se, portanto, de uma descrição fílmica que procura combinar o que o mesmo Rouch defendia: "o rigor científico e a arte cinematográfica". Com Descrever o visível, os organizadores do livro (Marcius Freire e Philippe Lourdou) e seus parceiros convidam o leitor a uma imersão viva no campo do cinema documentário e da antropologia fílmica. Propõem-nos um quadro metodológico sólido e um horizonte propício a futuros debates. Etienne Samain.