Júlia Lopes de Almeida (1862-1934), em "Memórias de Marta", apresenta seu primeiro ensaio de romance. A maior parte da trama desenvolve-se dentro de um cortiço, tendo como cenário principal a Capital do Império, Rio de Janeiro, apresentando duas Martas, mãe e filha. O relato subjetivo, calcado nas lembranças de Marta adulta que relembra sua sofrida trajetória e a busca de melhores condições de vida para ela e para sua mãe, configura-se numa busca, não do tempo perdido, mas da felicidade, do carinho, dos sonhos que nunca se realizarão e da aceitação de uma vida sem amor, riqueza ou luxo. A protagonista resiste à idéia de um casamento sem amor e contrariando as expectativas da mãe e da sociedade, valoriza sua posição independente e a capacidade das mulheres de superarem desafios. Mas Júlia Lopes de Almeida, embora desconstrua o esquema romântico do casamento por amor e reafirme um posicionamento pessoal de crença na capacidade de profissionalização das mulheres, sucumbe diante de certo compromisso em relação às regras de convivência da sociedade.