É suspeito ter por apoio o que o próprio autor coloca em primeiro plano, é melhor dar atenção ao que ele tenta passar sob o silêncio." É esta máxima metodológica, enunciada em 1924 pelo próprio Heidegger, que é rigorosamente aplicada nestas Leituras de Ontologia Fundamental - esta problemática maciça colocada em torno de Ser e Tempo (1927), depois nos cursos de Marburg (1923-1928) até aos de Fribourg (1928-1935) hoje acessíveis na Gesamtausgabe. A discrição de Heidegger face a algumas das suas inspirações fundadoras é um facto familiar aos seus conhecedores. Esta obra pretende explorá-las e comentá-las sistematicamente: a propósito de Husserl, do Aristóteles do sexto livro da Ética a Nicómaco, do Hegel da Fenomenologia, de Nietzsche ou mesmo de Descartes. Daqui sai uma reinterpretação global e original da "ontologia fundamental". O seu projecto, que fazia da compreensão de si do dasein humano a chave da inteligibilidade dos diversos sentidos do ser e de toda a história desconstruída da ontologia, torna-se de facto como o culminar tendencial das pretensões absolutas da metafísica moderna. Depois do "caso Heidegger", cujo desafio essencial era, para além dos espectáculos mediáticos, a questão filosófica da ligação aos nazis, esta recolha de ensaios, que vai buscar a fonte muito antes, mostra em simultâneo a ambiguidade e a coerência, e submete, pela pri-meira vez, a obra do jovem Heidegger a uma crítica interna rigorosa e salutar. Visando ajuizar os conteúdos, os desvios e as conclusões sobre o seu próprio terreno que é o da fenomenologia, esta obra coloca-nos em condições de reflectir a fundo sobre esta difícil questão. JACQUES TAMINIAUX é filósofo.