Em Ópera de sabão o leitor encontra o melhor da ficção de Marcos Rey. Sarcástico, duro em certos momentos, mas com um leve fundo de piedade pelo bicho-homem, o romance retrata uma família paulistana abalada e revoltada com o suicídio de Getulio Vargas, em agosto de 1954. O conhecimento da tragédia, como em tantos outros lares brasileiros, chegou aos personagens através das ondas do rádio, então o grande veiculo de comunicação popular. A televisão apenas engatinhava e só os ricos tinham aparelhos em casa.O próprio titulo alude ao radio, objeto de paixão do autor. Opera de sabã e a tradução em português de soap operas, nome dado as radionovelas nos Estados Unidos, pelo fato de serem sempre patrocinadas por sabões e sabonetes.Sem ser um romance histórico, no sentido estrito do termo, a obra entrelaça o fundo histórico com a realidade cotidiana dos personagens, reconstituindo com fidelidade os anos 1950, década de grandes transformações na vida nacional. Foi a época em que a publicidade se cristalizou, as boates entraram na vida dos jovens e a violência urbanacomeçava se revelar, mas as radionovelas, esses olhetins de ouvido, continuavam imbatíveis na preferência dos brasileiros. Neste mundo encontramos personagens sempre humanos, típicos do período, como o pai de família que, como tantos brasileiros de então, planeja vingar Getulio matando Calos Lacerda.Como é peculiar em Marcos Rey, o leitor vai se encontrar com uma obra risonha e irônica, um tanto zombeteira, que acompanha com atenção as derrapagens da frágil condição humana que começou com Adão e Eva, e que são diferentes de nós só porque não foram radiouvintes nem telespectadores, na observação precisa e irreverente de Mário Donato. Em Ópera de sabão, Marcos Rey amplia a sua perspectiva e faz com que o suicídio de Getúlio Vargas em 1954 se reflita nos três dias seguintes da família Manfredi, em São Paulo. Com humor e fidelidade, nos revela tanto fatos históricos deste período como, por meio de seus personagens, a fragilidade da condição humana.Em Ópera de sabão, Marcos Rey amplia a sua perspectiva e faz com que o suicídio de Getúlio Vargas em 1954 se reflita nos três dias seguintes da família Manfredi, em São Paulo. Com humor e fidelidade, nos revela tanto fatos históricos deste período como, por meio de seus personagens, a fragilidade da condição humana.