Quem nunca se apaixonou? E todo mundo que já vivenciou esse sentimento sabe o quanto ele parece incontrolável e desmedido. Na psicanálise não é diferente. Longe de tentar disciplinar o destempero da emoção, e sem tampouco resignar-se a ela, a clínica analítica joga o jogo da paixão até chegar a um outro destino. O psicanalista Marcus André Vieira percorre esse caminho, seguindo os passos de Freud e Lacan. Lacan, por exemplo, aproximou a ética da paixão. "Foi o seu modo de nos fazer entender como uma análise se dirige a isso que não cabe", explica Vieira em seu livro. Seguindo essa associação, a clínica afasta-se da sabedoria e da justa medida que regem a vida em sociedade para se entregar a um campo onde a violência e a paixão ditam as regras. É nesse terreno onde se esperar encontrar as singularidades de cada um. "Fazê-las caber na vida que se leva é a exigência que preside o dispositivo analítico", explica o autor. Esse é um livro que não busca chegar a nenhuma sabedoria ou receita para lidar com as paixões, mas inaugurar a possibilidade de uma responsabilidade nova, a de aceitar e compreender que a vida será sempre habitada por um excesso que surpreende, provoca riso ou escândalo.