Se compreendermos o campo jurídico como o conjunto de discursos e práticas que organizam e, em grande medida, forçam nossos modos de viver juntos, então, é urgente interrogá-lo quanto às razões do racismo ainda permanecer presente em nosso ethos. É preciso dizer o óbvio: não haverá ethos democrático enquanto houver racismo - uma das formas insidiosas do fascismo, juntamente com o machismo (fobia e violência às formas de vida não heteronormativas, em especial). Esta hipótese é posta a trabalho a partir da obra Quarto de Despejo, de Carolina Maria de Jesus. Diário de uma favelada, a autora nomeia, explicitando tratar-se de um olhar particular e também de um relato testemunhal do horror cotidiano vivido não apenas por ela, mas por milhões de outras brasileiras e brasileiros situados à margem de seus direitos civis mais básicos.