A interrogação filosófica é o pensamento que se interroga sobre si mesma, e é com esse termo "interrogação" que Merleau-Ponty designa finalmente sua ontologia. É nessa interrogação que a filosofia aparece a nu, na medida em que deseja saber onde estou? E que horas são? Questões que são inesgotáveis, porque nenhuma pergunta nada mais faz do que "postergar essa questão e enganar nossa fome" (VI:119). Na medida em que perguntamos "onde estou?" e "que horas são?", evocamos um "secreto conhecimento do espaço e do tempo em si", na qual a interrogação nos desvenda que existe um mistério de nossa localidade e que há sempre a descobrir aí a "questão central que somos nós mesmos" (VI:104). Como repensar todas essas noções a respeito de nossa experiência? Essa é a tarefa de O visível e o invisível (1964), onde Merleau-Ponty , retoma, aprofunda e retifica essas análises anteriores: o que precisamos saber é o sentido de ser do mundo, devemos então abandonar tanto a "ideia ingênua do ser em si", quanto à ideia "correlata de um ser de representação", de um "ser para a consciência", e também de um "ser para o homem"; e o que devemos fazer é repensar essas noções a "respeito de nossa experiência do mundo, ao mesmo tempo em que pensamos o ser do mundo" (VI:18).