A perda do mundo e outros ensaios contemporâneos é a síntese de uma vasta análise. A análise em questão é nada menos que a do mundo contemporâneo, Brasil incluído, conforme empreendida pelos maiores pensadores brasileiros, ao lado de outros tantos estrangeiros, desde 1981, quando, sob inspiração do crítico Roberto Schwarz, é lançada a revista Novos Estudos Cebrap. O volume conta com organização de Paula Montero (atual presidente do cebrap) e Álvaro Comin, e prefácio de Cícero de Araújo, além de notas e índice remissivo. O Centro Brasileiro de Análise e Planejamento cebrap foi fundado em 1969 por um grupo de acadêmicos e intelectuais, liderado por Fernando Henrique Cardoso, a fim de manter, nas duras circunstâncias político-culturais da ditadura militar, o pensamento crítico e independente. Foi então, no contexto da comemoração de seus 40 anos, que se organizou a presente coletânea, com alguns dos principais textos da fase mais recente de sua revista. A Novos Estudos Cebrap é uma revista de ciência humanas com várias particularidades, tanto editoriais quanto de conteúdo. É única entre as revistas da área pela longevidade, mas também pela constância, enquanto seus pares costumam enfrentar, infelizmente, percalços editoriais. Mas ainda é única por sua interdisciplinaridade em tempos de especialistas, contemplando sociologia, história, filosofia, economia, antropologia e crítica de arte. Por fim, é especial por suas análises particularmente aprofundadas, tanto nos textos em si como na organização habitual de dossiês temáticos. Resta acrescentar que seus colaboradores formam um verdadeiro quem é quem da intelligentsia contemporânea. Organizada em três módulos, a presente coletânea reflete e sintetiza tudo isso, de modo a recuperar retrospectivamente, em uma visão panorâmica, algumas das questões mais candentes que animaram o debate sobre a vida brasileira nas décadas de 1980 e 1990, conforme a apresentação. Assim, na primeira parte reunimos artigos que fazem um balanço sobre um tema predominante na década de 1970: a questão das possibilidades e condições da modernização no Brasil. Nesse balanço, superar o silêncio a respeito dos modos de onsolidação de uma sociedade democrática emerge como a tarefa mais urgente. Na segunda, o debate político e teórico, cujos termos ainda estão em elaboração e disputa, se torna ainda mais controverso. É possível distinguir a especificidade deste momento do capitalismo avançado em termos do fim da modernidade? As utopias políticas associadas à modernidade também se foram com ela? O diagnóstico de nosso tempo está sendo realizado a contento? São mais perguntas do que respostas; a maior parte delas ainda alimenta nossa reflexão atual sobre a sociedade e a política (e, neste caso em particular, ajudam a explicar o título da coletânea). Por fim, na terceira parte foram reunidos trabalhos sobre as dimensões culturais da modernidade (ou pós-modernidade?). A ‘sociedade do espetáculo’ e suas linguagens colocam no centro de nossa reflexão o papel da indústria cultural e suas formas estetizadas de persuasão. Entre os autores, Antonio Candido, Antônio Flávio Pierucci, Celso Furtado, Elza Berquó, Fernando Henrique Cardoso, Francisco de Oliveira, Frank Zappa, Fredric Jameson, Ismail Xavier, José Arthur Giannotti, Jürgen Habermas, Lorenzo Mammì, Luiz Felipe Alencastro, Maria Herminia Tavares de Almeida, Paul Singer, Perry Anderson, Peter Bürger, Roberto Schwarz, Rodrigo Naves e Ruth Cardoso.