O período das Guerras Púnicas marca uma transformação fundamental na história de Roma. A nobreza romana, antes dominante na esfera da Península Itálica, torna-se representante da principal potência no Mediterrâneo. Mudam a forma romana de expressar o poder - seu posicionamento político perante outros povos - e o conceito do que é ser romano, mudanças de comportamento e ideias que resultam do processo de produção da identidade e da representação romanas de domínio do mundo, processo gerado pelas inter-relações entre romanos e cartagineses durante as Guerras Púnicas. Nesse livro, estas transformações são interpretadas a partir das Histórias, de Políbio, o relato mais antigo - e próximo - destas guerras que chegou aos nossos dias, analisado através de uma perspectiva cultural. Desta perspectiva, as interações entre romanos e cartagineses no período das Guerras Púnicas são responsáveis tanto pela produção da identidade e da representação de domínio mundial, quanto pela alteridade em relação aos cartagineses, alteridade simbolizada na figura de Aníbal, percebido como a reificação de Cartago. As Guerras Púnicas, portanto, transformam a realidade, da forma que era percebida pelos romanos, e as atitudes romanas ante outros povos passam a traduzir um discurso altamente impositivo, que exprime a nova visão romana do mundo como dominado