Da euforia à disforia, do contentamento ao impasse, do impasse à tragédia ou à melancolia paralisante: é do fulcro do mal-estar a feliz definição sob a qual se reúnem os afetos desprazerosos que Pedro Furtado mobiliza as questões literárias, culturais e políticas que norteiam a estruturação de um espírito do tempo desencantado nas nossas letras, prenunciando a noção de subdesenvolvimento brasileiro. Para além de mostrar a formação da tristeza e das balizas teóricas arregimentadas para estudá-la (emanadas da filosofia e sobretudo da psicanálise freudiana), o eixo central de Literatura brasileira e mal-estar é a análise interpretativa profunda, e rara atualmente, do tecido enunciativo dos romances estudados. É de tal ato crítico que resulta a originalidade do texto. No capítulo acerca de Calunga, de Jorge de Lima, o autor consegue explorar as diferentes camadas de conflito do romance e, assim, indica como é engendrado o fracasso total da personagem principal. [...]