Nos desertos do Egito e da Síria, quinze séculos atrás, vê-se um mundo árduo e nu, hostil ao homem, lugar de provas inesquecíveis, onde o impossível parece possível. No século IV d.C., dois homens, Antão e Pacômio, deixaram um mundo que julgavam em agonia para exilar-se por toda a vida no deserto e ali fundar os primeiros mosteiros da história cristã. Milhares de outros os seguiram, povoando as solidões com suas silhuetas emaciadas, queimadas pelo ardor e pelo sol, enfurnando-se em grutas ou buracos de grandes árvores, instalando-se sobre colunas como os estilitas ou alimentando-se apenas de ervas e raízes. Eram anjos ou animais? Essa história nunca revelou o seu segredo, mas o fascínio da recusa do mundo cotidiano atua sobre nós mais que antes, ao considerarmos essa vida vivida a cada dia na fronteira da morte, essa experiência sem precedente em busca de um mundo e de um homem novos.