"O menino encontra as notas. Elas ainda não fogem, são dóceis, o beijo é doce, atrás das orelhas os beijos fartos da mãe. O menino anota palavras no caderno. Falta-lhe a capa, no lugar da capa, a primeira folha amassada e exibida: um título, duas orelhas, um desenho. O desenho rabiscado a bic sugere uma cena intergaláctica. No centro, onde há um rabisco em destaque, deve-se ler: furacão de estrelas. As notas soam nas mãos do menino mais organizadas que no caderno. O furacão do título é sóbrio na música do menino, seus pequenos dedos repetem acordes sem excessos, sua concentração é austera, seu esforço, oportuno. O menino conhece aquele piano. Gosta daquele, grande, som grande, do seu tamanho, devolve no dedo o som que conhece no peito."