Que o leitor não se deixe (des)enganar: são muitas as leituras que se abrem neste Ramerrão de Ismar Tirelli Neto. Em meio a sutis modulações que nos levam ora para um tom epistolar, ora para o verso da prosa, e em outras horas para algum lugar que fica além do mero poema, o autor mostra que é mestre em fugir do óbvio, em criar novos sentidos com o fino artesanato de quem sabe brincar a sério com as palavras. Cada cena, sequência e corte deste ramerrão nos conduzem cinematograficamente pelos cenários mais diversos: a casa, o quarto, o hotel, ruas e postais do mundo inteiro, num labirinto de imagens que expõe intimidades – que só podem ser nossas, as desses personagens estranhos embora íntimos. Tendo nas mãos a chave-mestra que o autor nos oferece para abrir as portas dos labirintos da linguagem, podemos encontrar aquela matéria oculta e rara de que é feita a poesia.