A porta do meio, espessa e em madeira maciça, localizada à entrada do corredor que dava acesso da sala aos cômodos íntimos das casas-grandes das fazendas nordestinas, configurava-se num obstáculo intransponível tanto às visitas masculinas que, estando na sala, ficavam proibidas de adentrar aqueles cômodos, quanto às mulheres não escravas que ali habitavam, tolhidas do acesso à sala, enquanto aquelas visitas ainda ali permanecessem. As jovens Sinhás, colocadas sob a vigilância de mucamas fieis ao senhor, dormiam em alcovas, quartos sem janelas, situados entre os quartos dos pais e dos irmãos. Vigiadas às sete chaves guardavam suas virgindades para os seus futuros maridos, muitas vezes em casamentos arranjados em consonância com os interesses financeiros de seu próprio pai. Os espetaculares raptos de donzelas, lembrando o rapto de Helena pelo príncipe troiano Páris, se alastravam na imaginação fértil dos cordelistas, façanhas cantadas nas feiras livres populares das vilas e, mais tarde, cidades. Mas qual a origem da Porta do Meio? Em busca da resposta a esta inquietante indagação, o Autor examina as Histórias Local, Regional e Brasileira, as Literaturas Regional e Brasileira, a História Econômica brasileira sem que algo consistente fosse encontrado. Um mergulho na Antropologia, na História de Portugal e da Península Ibérica, fê-lo remontar ao ano de 711, ano da invasão moura à Península. Rastreando na ordem inversa, o fio condutor retorna até a Porta do Meio e revela um mundo sombrio, impregnado de incesto, tabu sexual, sífilis e guerras. Assim é que A Porto do Meio; a História do Brasil que o brasileiro não conhece consiste num revivamento da História pouco conhecida da formação do Brasil, que precisava ser resgatada para compreensão do presente.