Este é um livro digno de nota. Note-se, para começar, o título, que designa objetos artísticos doados às divindades como forma de agradecimento por uma graça alcançada ou pagamento de alguma promessa. Note-se a estrutura em quatro partes: Fogo, Danação, Cinzas, Arrebatamento; sugerindo uma trajetória de penas, morte e ressurreição. Note-se a poesia intimista, surgida de um mundo interior cultivado, urdindo uma poética da observação, conexão e sentido vazada em linguagem por vezes elíptica e lacunar, feita de digressões, frases entrecortadas. Note-se as referências e diálogos com outros textos e autores, e os versos muitas vezes flertando com a prosa. Note-se o humor, preciso e corrosivo, atento às ironias e hipocrisias da sociedade. Note-se como os textos transitam entre raízes familiares, leituras, sonhos, mas sobretudo a memória e o cotidiano. É conhecida a afirmação de Ferreira Gullar de que a poesia surge do espanto. Neste sentido, os poemas deste livro parecem querer nos (...)