O terceiro volume das Obras Completas de Jorge Luis Borges compreende dez livros publicados no período de dez anos: de 1975 a 1985. Com este volume completa-se o ciclo de produção propriamente literária: poesia e ficção. O Volume III traz momentos memoráveis. No livro de abertura do volume, O livro de areia, encontramos dois Borges que dialogam no conto "O outro": um, o adolescente de Genebra; o outro, de Cambridge, Boston, em 1972, data provável da composição do conto. Cheio de momentos autobiográficos, o texto é uma variante do notável "Borges e eu". O conto "O suborno", do mesmo livro, é uma paródia implacável da ética do mundo acadêmico norte-americano (Neste conto ele recria a época passada na Universidade do Texas em Austin), em que imperam a vaidade e as intrigas da política das publicações frente à falsa ética imposta pelos jogos de poder. Um dos elementos que comovem neste livro, é o paulatino ingresso de Maria Kodama no imaginário afetivo e na literatura de Borges. Assim, o belo poema "A lua", arquétipo do elemento feminino, é a ela dedicado (A moeda de ferro, 1976). No ano seguinte, o livro de poesia História da noite é também a ela dedicado às vésperas dos 78 anos do autor: 23 de agosto de 1977. Poucos anos depois, em 1981, na "Inscrição" de A cifra, o nome da pessoa amada aparece pronunciado com imenso lirismo: "Eu pronuncio agora o seu nome, Maria Kodama. Atlas, livro feito em colaboração com Maria Kodama, é indiretamente a ela dedicado no "Prólogo". Um livro inusitado, pleno de viagens e epifanias. Um momento extraordinário da narrativa curta o encontramos em "O deserto". Da maior importância também é o fragmento "Genebra", onde Borges manifesta, dois anos antes da morte, a vontade de ser enterrado naquela cidade, onde passou seus anos adolescentes: "Sei que voltarei sempre a Genebra...". Este último volume reflete uma espécie de serenidade amorosa, uma felicidade não revelada nos textos anteriores.