A democracia brasileira, constituída a partir da indignação contra a violência da ditadura militar, ainda tolera a barbárie promovida pelo Estado contra determinados grupos e sujeitos. Este livro procura entender a história e as razões dessa estranha tolerância. "Nas favelas, a ditadura nunca acabou." Essa é uma frase que os movimentos sociais de favelas e o movimento negro usam para chamar a atenção para o fato de que a democracia construída após o regime autoritário não chegou para todos da mesma forma. A transição política no Brasil após a ditadura, culminando na Constituição de 1988, visava romper com o passado autoritário do país. Contudo, o que observamos foi um aumento aterrador dos números de violência policial e encarceramento ao longo dos anos. Essa passagem, orquestrada pelos militares e pelas elites civis, marcada pela retórica da "conciliação" e do "esquecimento", resultou na instauração de um sistema no qual o Estado continua a gerar vítimas diariamente. (...)