A intervenção paterna que evocamos aqui é inteiramente identificável nos primeiros momentos da criança, do infans, "aquele que não é falante". Quando a criança entra no círculo familiar, acontece-lhe chorar, e a mãe dirá, no primeiro dia, que a criança está triste, no dia seguinte, que está passando mal, no outro lhe perguntará por que chora. No quarto lhe dirá ainda outra coisa, e todas as palavras que forem ditas irão "definir" essa criança; vão etiquetá-la, vão dizer o que ela é. Podemos perfeitamente entender "o pai" como aquele que vem dizer "Não, ela não é tudo o que você diz dela!", ou "Sim, mas..."; ou seja, dar à criança as armas que lhe permitem fazer de modo a que não haja adequação entre o que sua mãe diz e o que ela é como sujeito. Isso banalmente só remete à clínica cotidiana, por exemplo, a das dificuldades anoréxicas. Algumas mães sem parar dizem à criança: "Come tudo. Come. Come!". Será importante que um pai intervenha um dia, dizendo, à mesa: "Deixa ela em paz". Essa simples intervenção paterna poderá perfeitamente salvar a criança da anorexia, porque se o outro, a mãe, que é colocada em lugar de grande Outro, diz durante o dia a uma criança "Come, come", sem que nenhum contrapeso paterno venha funcionar, só restará a esta recusar se alimentar para refazer o furo indispensável ao sistema.