O livro de estreia de Tomás Braune poeta entre corpo e passagem nos traz a lucidez cortante na madrugada do sanatório do mundo. Metáfora da vida oblíqua de quem resiste no movimento de não ser sou sido, de percorrido e penetrado não estou: sou estado, e vazo, vazo, vazo, na insistência de envelhecer ao avesso. O poeta é-se como o verbo clariceano que se encontra no compasso de uma vida que se refaz e se renova na busca pela palavra. No poema exato, ele diz: isso aqui não é um sonho, tampouco um poema, exato: é uma vaca. isso aqui é uma vaca. Como se ver vendo fora do aprisionamento do mundo-sanatório?, é a pergunta que ecoa. O poeta é sensível de incongruências, lançando-nos às imagens que integram o que nomeia como compaixão a matéria densa e humana que mistura lamento e dor, crueza e sublimação e presenteando-nos com a beleza de cavalos metafísicos que permanecem batendo a cabeça no muro mesmo depois da morte. Talvez seja essa a imagem-síntese dos grandes artistas, como Tomás(...)