"Trago um sério compromisso com as palavras", diz Sandra Niskier Flanzer logo no início de sua original antologia de poesia e prosa poética. E mais adiante: "Palavras vertem involuntárias de minha boca/ Desobedecendo as leis do tempo e do espaço". E ainda: "É entre as sílabas que habita a aposta." Estes três exemplos bastam para demonstrar o fato básico que rege a construção desta obra: a preocupação com a palavra. Esta preocupação, por sua vez, nasce da condição da autora. Ela é, como vemos, uma talentosa poeta, que só agora nos dá os frutos de um trabalho silencioso, incubado ao longo de muito tempo. E é psicanalista. Os dois ofícios partilham um território comum. E este território é constituído por aquilo que é o objeto preferencial para a autora: a palavra. Poesia e psicanálise, ambas lidam com a palavra. No caso da poesia, a palavra serve como instrumento de criação estética, como chave para que possamos entrar no universo da arte. No caso da psicanálise, a palavra é o fundamental elo de comunicação entre paciente e analista, sobretudo quando a doença resulta, como diz Thomas Mann, da "paixão transformada", dos conflitos emocionais pelos quais todos passamos, e que, em muitos casos, manifestam-se por um elevado grau de sofrimento. Nessas situações, é muito necessário que a pessoa possa expressar em palavras suas fantasias, como demonstrou Sigmund Freud, para quem, aliás, poetas e escritores tinham precedido os próprios psicanalistas na descoberta do inconsciente. Freud voltou-se constantemente para a literatura como forma de apoio para suas ideias. Sandra Niskier Flanzer tem, pois, "um sério compromisso com as palavras" que, de sua boca ou de sua pena, "vertem involuntárias", como é de esperar quando se fala ou se escreve sob o domínio da inspiração e da empatia, quando se quer mergulhar fundo na condição humana. Ela sabe: "é entre as sílabas que habita a aposta". Aposta que ela aceita, para, a partir daí, dar-nos esse livro surpreendente e admirável.