Em seu livro de estreia, Mariana Artigas bate-nos à porta apresentando uma poesia do desfazer-se. Na escavação de seu sítio arqueológico, encontramos vestígios do passar dos séculos, mitologias, putrefações mil e ossos em laços. Aqui, o corpo é personagem. Entre bocas vorazes e corpos ébrios, amantes fogem na noite ao ritmo de canções de travessia. Entre barbas que se roçam e pequenos esqueletos que se dobram, nasce a potência daquilo que é frágil e, por isso, humano. Nesse claro enigma de tempestade em preto e branco, desenha-se a anatomia da impermanência, entre morte e ruína: de homens, cidades e civilizações. Desgeografada, a poeta nos transporta de uma página a outra do Egito para a Grécia Antiga, com um breve remar pelo canal de Veneza. Sua mitologia é da ordem do onírico, da ordem do voluptuoso petite mort cena divina. A ossatura que a leitora ou o leitor carrega em mãos é também cênica, com os corpos pintados nos versos, delineando performances no balé da sobrevivência (...)