Neste livro, Carla Viviane Paulino analisa o relato de viagem do inglês/norte-americano Thomas Ewbank, escrito depois de sua estada por seis meses no Rio de Janeiro, no ano de 1846. E o faz, diga-se desde logo, com maestria. A autora mostra como Ewbank, a partir dessa curta experiência vivida na capital do país, generalizou suas impressões e construiu representações abrangentes sobre o homem e a cultura do Brasil oitocentista. Tece, ponto a ponto, o retrato que o viajante fez do modo de vida dos “brasileiros”: católicos, monarquistas, avessos ao trabalho e ao progresso e permissivos diante da escravidão negra. Um dos grandes méritos do trabalho de Carla Paulino é ter entendido que o viajante, ao chegar ao Rio de Janeiro, trazia um arcabouço de ideias pré-elaboradas. Desse modo, seu olhar sobre o Brasil ganhou uma interpretação já referendada pela bagagem de conceitos engendrada nos Estados Unidos. Como membro da American Ethnological Society, criada em 1842 na cidade de Nova York, Ewbank julgava-se possuidor de conhecimento “científico” suficiente para julgar “outras” sociedades. Sentia-se, assim, plenamente capacitado para estabelecer hierarquias, identificando a inferioridade do Brasil e a superioridade dos Estados Unidos.