Trata-se de um estudo sobre a "arquitectura para a morte" centrado nas questões cemiteriais e no modo como se reflectiram na Teoria da Arquitectura, desde os seus alvores, com Vitrúvio (Séc. I a.c.), até meados dos anos 60, com Auzelle, "le dernier théoricien des dernieres demeures". Adoptando um enfoque hermenêutico apoiado em Heidegger, Gadamer e Koselleck; na Teoria da Cultura de Assmann, para quem "a morte é a origem e o centro da cultura", e na de Bottani, que considera que" diftrir a morte é o sentido da vida humana enquanto vida cultural"; além dos estudos sobre as atitudes perante a morte de Aries e Vovelle, e remetendo para o fenómeno de rejeição da morte, que se começou a observar a partir da década de 50, o estudo consta de uma exposição e interpretação crítica de textos de Teoria da Arquitectura que apresentam reflexões sobre as questões cemiteriais, considerando-se também outros textos que, embora não pertencendo ao corpus específico da Teoria da Arquitectura, apresentam reflexões significativas sobre a "arquitectura para a morte" e questões conexas. Procura-se identificar as ideias sobre a morte, o destino a dar aos mortos, as práticas funerárias e sepulcrais, mas sobretudo o que dizem sobre os cemitérios, em termos de localização, ordenamento urbanístico e arquitectónico, características ambientais, características de uso e vivência, e os factores de terminantes deste ordenamento e caracterização, identificados como relativos à salubridade, ao culto religioso e memorial, e aos anseios ético-estéticos. Estes três factores são como que o fio conductor e alineador na pesquisa do(s) sentido(s) e significado(s) que se expressam na Questão Cemiterial. Como (in)condusões confirmam-se estas premissas, mas apresentando como tese polémica que a salubridade e o decoro, no contexto do Iluminismo e da Revolução Francesa, foram véus ou máscaras sob as quais se ocultou o inconfessado desejo de esteticização dos cemitérios, das práticas funerárias e sepulcrais, e ocultação da morre. Refere-se ainda a actual inexperienciabilidade da morte, e a obnubilação ou "disparitión" do seu significado, o que dificulta falar-se hoje de uma visão da morte, que sempre se refere a uma representação social amplamente partilhada.