Habitualmente, críticos literários enchem laudas e laudas interpretando motivações poéticas sobre o ato de criação. Quando um autor deixa para a posteridade obra controvertida, a análise do texto transforma-o em peça de discussão onde a verdade é, muitas vezes, manuseada com fins pessoais ou de grupo. E a interpretação passa a valer como se fosse a última razão inquestionável. Ao iniciarmos estas antologias pessoais, em 1990, o fizemos com o poeta cubano Amando Fernández, já falecido, detentor dos prêmios Juan Ramón Jiménez e Luis de Góngora, na Espanha. Então o Miami Herald inquiriu-nos sobre o motivo de promover esse poeta como o maior da Flórida, EUA. Nossa resposta foi bem simples: "Santos de casa não fazem milagres"... O mesmo aplica-se hoje a personalidades literárias cujo valor indiscutível parece estar submerso à vista da crítica literária dominante, que só tem elogio para amigos, grupos de pressão ou nomes ligados a corporações prestigiosas, que manietam ilusoriamente o espírito crítico. Leiam-se os cadernos culturais e note-se ali a quase total ausência de autenticidade crítica. Dando a palavra ao autor e deixando-o livre para efetuar sua própria seleção, estamos convictos de que o tempo há de manifestar o verdadeiro valor do ato criativo, básico para o estudo analítico das profundas motivações que nortearam o maravilhoso ato de escrever. Com efeito, a arte da escritura é a maior alegria que um autor pode dar a si próprio. Frui do desafio interior, quando o mistério se desvela, e propicia a cada leitor o ensejo de recriá-lo com sua interpretação pessoal. Esta é a oportunidade oferecida àqueles que, julgamos, vão ser para sempre lembrados na história da literatura. A nossa seleção não é discriminativa. Ela estará aberta a todos os poetas de língua portuguesa e, posteriormente, a quantos representem expressão válida entre os escritores latinos. A escolha será feita por todos que participaram de nossa primeira seleção, visando ao primus inter pares, independente dos favores da mídia. Teremos cópias numeradas, para marcar bem esta iniciativa, que não visa ao lucro das grandes edições mas, tão somente, assegurar a perenidade da coleção. E este ato, que incorpora a auto-análise, sirva à Poesia, sob os auspícios de Camões e Cervantes, Castro Alves, Pessoa e Jorge Luis Borges.